Comunicações
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E COESÃO
DO ESPAÇO REGIONAL:
UMA AVALIAÇÃO SUCINTA DE RISCOS E OPORTUNIDADES
João FERMISSON*
A. CONTORNOS DE UMA PROBLEMÁTICA COMPLEXA
A análise das dinâmicas territoriais
em curso no Alentejo indicia uma reconfiguração
do espaço regional que tende a reforçar assimetrias
internas, traduzidas no fortalecimento dos principais centros
urbanos e eixos logísticos e no enfraquecimento do
grau de coesão interna, gerando problemas acrescidos
de periferização/marginalização
de uma significativa parte da região. Do ponto de vista
da gestão do território, este contexto suscita
necessidades de intervenção que deverão
ser ponderados em função dos resultados desejados,
sendo certo que a natureza própria dos processos de
planeamento e ordenamento lhes confere um carácter
conflitual por via das diversas visões e expectativas
neles envolvidos. A presente comunicação tem
assim como finalidade realizar uma avaliação
sucinta do conjunto de riscos e oportunidades que à
região se colocam num contexto de médio/ longo
prazo, em função das referidas dinâmicas
territoriais, sendo desenvolvida a partir das visões/desafios
que às várias escalas espaciais do processo
de planeamento se colocam na actualidade (supra-regional,
regional e local/municipal).
B. UMA VISÃO SUPRA-REGIONAL: QUESTÕES
CENTRAIS
Em termos supra-regionais, o enquadramento
do Alentejo deve ser entendido a dois níveis distintos
mas complementares entre si, os quais remetem para o posicionamento
da região nos contextos nacional e comunitário.
A perificidade do Alentejo em ambos os referenciais constitui
um denominador comum, estando as opções de planeamento/intervenção
essencialmente relacionadas com a aplicação
de medidas de discriminação regional positiva.
A nível comunitário, as principais orientações
retidas decorrem dos mecanismos subjacentes à política
regional e à evolução da coesão
económica e social nas diversas regiões europeias,
bem como ao recentemente aprovado Esquema de Desenvolvimento
do Espaço Comunitário (EDEC); será ainda
feita uma referência específica à problemática
da cooperação transfronteiriça. A nível
nacional, por seu turno, as opções governamentais
para o período 2000-2006 encontram-se vertidas em documentos
como o Plano Nacional de Desenvolvimento Económico
e Social (PNDES) e operacionalizadas através do III
Quadro Comunitário de Apoio. Da maior importância
reveste-se também o Programa Nacional da Política
de Ordenamento do Território (PNPOT), ainda não
aprovado, mas cujos reflexos em matéria de investimento
público irão naturalmente potenciar/condicionar
as possibilidades de desenvolvimento da região.
C. UMA VISÃO REGIONAL: QUESTÕES
CENTRAIS
Adoptando uma visão agregada da região
Alentejo, é consensual a ideia de que este é
um espaço globalmente caracterizado pela persistência
de uma trajectória regressiva, de que o progressivo
esvaziamento demográfico constitui, porventura, o seu
melhor indicador. A nível interno, por seu turno, são
identificáveis perspectivas diferenciadas para cada
uma das sub-regiões alentejanas (Alto Alentejo, Alentejo
Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral), pelo que se privilegiará
não só a identificação de espaços
dinâmicos vs espaços regressivos mas,
igualmente, os principais projectos previstos/em curso susceptíveis
de assumir impactes territoriais significativos.
D. UMA VISÃO LOCAL/MUNICIPAL: QUESTÕES
CENTRAIS
O nível local/municipal do desenvolvimento
da região Alentejo constitui, porventura, aquele onde
os fenómenos de recomposição territorial
em curso se farão sentir com maior intensidade. Na
prática, a tradução espacial destes fenómenos
tenderá a acentuar as centralidades regionais em detrimento
de áreas caracterizadas por um menor dinamismo da actividade
económica, maior esvaziamento populacional e inferior
nível de acessibilidade. A adopção de
posturas proactivas de planeamento estratégico revela-se,
a este nível, como uma determinante central para a
condução da mudança sócio-económica,
discutindo-se as virtualidades associadas aos instrumentos
de carácter municipal e inter-municipal actualmente
aos dispor das Autarquias.
E. UMA SÍNTESE DOS RISCOS E DAS OPORTUNIDADES
A abordagem realizada é indicativa
de três situações que deverão ser
ponderadas na formulação de opções
estratégicas de desenvolvimento para o território
regional: (i) o Alentejo é, cada vez mais, um
espaço sujeito a dinâmicas de recomposição
territorial conducentes ao reforço de assimetrias internas;
(ii) o futuro do Alentejo será diferenciado
consoante a adopção de uma lógica selectiva
de promoção da competitividade territorial ou
de uma lógica de reforço da equidade e coesão
territorial; (iii) a dinâmica de desenvolvimento
do Alentejo dependerá essencialmente da capacidade
prospectiva e operacional que os seus actores e agentes, designadamente
os de natureza pública, vierem a demonstrar aos diversos
níveis de intervenção (nacional, regional,
sub-regional e municipal), considerando aqui o aproveitamento
que vier a ser realizado sobre os recursos institucionais
de cada território em particular.
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