Comunicações
ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
NO ALENTEJO: DOS CONSTRANGIMENTOS ÀS OPORTUNIDADES
Maria Alberto BRANCO*
I-INTRODUÇÃO
Esta comunicação tem como objectivo
reflectir sobre o papel que as instituições
de ensino superior (IES) localizadas no Alentejo poderão
assumir enquanto motores do processo de desenvolvimento económico
e social da região, enquadrando a reflexão através
da identificação sucinta dos constrangimentos
e das oportunidades com que presentemente se confrontam.
II-ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A territorialização do ensino
superior constitui uma tendência que se tem vindo a
afirmar progressivamente em Portugal, decorrendo essencialmente
da combinação de dois factores: (i) a
assumpção de um papel cada vez mais activo e
diversificado em termos de intervenção nas esferas
económica e social por parte das IES, e (ii) a
valorização destas enquanto instrumentos ao
serviço do desenvolvimento das regiões em que
se inserem.
No primeiro caso, parece cada vez mais evidente
que a abertura que as IES vêm protagonizando em relação
à sua envolvente económica, social, cultural
e até política decorre de necessidades de ajustamento
estrutural interna e externamente sentidas, correspondendo
a um esforço de maximização da sua inserção
e utilidade para a sociedade em geral. Naturalmente, esta
abertura deve fazer-se através das valências
específicas que caracterizam e diferenciam as IES no
quadro das redes inter-institucionais em que se inserem (formação
- inicial e contínua-, extensão e investigação
e desenvolvimento). No segundo caso, a lógica subjacente
prende-se com o contributo que as IES podem fornecer aos quadros
territoriais/ regionais onde se localizam, no exercício
das suas funções/ valências, funcionando
como centro de competências apropriáveis para
a qualificação dos respectivos tecidos económicos,
sociais e culturais. A natureza e eficácia das formas
e mecanismos de relacionamento com a envolvente é,
nesta perspectiva, uma determinante no grau de integração
regional das IES.
III-ANÁLISE DO QUADRO DE POTENCIALIDADES
E DEBILIDADES DA REGIÃO DO ALENTEJO
O Alentejo é, como se sabe, uma região
periférica no contexto geográfico nacional e
europeu, registando tendências demográficas persistentemente
regressivas que a transformam numa região despovoada
e envelhecida. A agricultura mantém uma importância
significativa (apesar da pobreza dos solos e da escassez de
recursos hidrológicos superficiais e subterrâneos),
assentando essencialmente na cultura extensiva de cereais,
em sistema de grande exploração, com baixa expressão
do regadio e considerável recurso à mecanização.
A indústria transformadora encontra-se, fundamentalmente,
concentrada no Litoral Alentejano, onde se localizam diversas
empresas de grande dimensão e interesse estratégico
nacional, não assumindo, no entanto, importância
significativa no emprego, no número de empresas ou
de estabelecimentos na região a que nos referimos.
Ao quadro acima descrito apresenta-se um
conjunto de desafios decorrentes de projectos estruturantes,
entre os quais merecem referência a alteração
das valências do Porto de Sines, a utilização
para tráfego civil da Base Aérea de Beja e o
Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA).
Estes projectos configuram o esboço de novos futuros
que, todavia, se confrontam, para além das indefinições
a que ainda estão associados, com condicionalismos
resultantes da fraca disponibilidade de mão de obra,
da deficiente capacidade de investimento e do elevado peso
da grande propriedade agrícola, dependente de subsídios.
Da forma como estes condicionalismos forem ultrapassados irá
depender o maior ou menor aproveitamento das oportunidades
associadas a estes projectos. Esse aproveitamento consubstancia-se
na alteração dos perfis de competências
requeridos aos recursos humanos regionais quer como condição
necessária para que ele possa efectivar-se, quer como
seu resultado.
IV-CONSTRANGIMENTOS E OPORTUNIDADES DAS INSTITUIÇÕES
REGIONAIS DE ENSINO SUPERIOR
A presença de IES em regiões
deprimidas e/ ou com trajectórias sócio-económicas
regressivas deve ser entendida como mais-valia para o respectivo
processo de desenvolvimento, na medida em que constituem uma
condição necessária (ainda que insuficiente)
para a respectiva qualificação. Contudo, a exploração
desta oportunidade estará dependente da minimização/
superação de constrangimentos diversos associados
tanto ao lado da oferta, como ao lado da procura: no primeiro
caso, estará em causa a adopção de novas
posturas por parte das IES em relação à
respectiva envolvente, promovendo uma oferta de competências
ajustada às necessidades veiculadas pela procura; no
segundo caso, estará em causa a formação
de limiares mínimos de procura que sustentem actividades
que, sendo desenvolvidas pelas IES, revertam directa e indirectamente
para a região e qualifiquem o seu processo de desenvolvimento.
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